10 de fev. de 2009

desassossego

é esse desespero
é essa vontade
é essa covardia
é essa expectativa
é essa inquietação
é essa tristeza
é essa emoção
é essa ansiedade
é esse monte de rivotril
é esse monte de fluoxetina
são esses montes de pensamentos
são esses montes de confusões
são esses montes de razões
são essas toneladas de emoções
são esses nós na garganta
são esses frios no estômago
são esses tremores na mão
são esses calores no sexo
são esses pesos nas pernas
é querer correr
é querer gritar
é querer fugir
é querer esconder
é querer esquecer
é querer morrer
é querer sentir
é querer ignorar
é querer temer
é querer calar
é temer escrever o que não pode ser lido
é temer escrever o que vai ser lido
é temer ser lido o que se quer escrever
é temer ser lido o que não pode ser escrito
é o subentendido
são as entrelinhas
é escrever para ser entendida
e temer a escrita
(porque as palavras ditas
e as palavras escritas
contêm a verdade que se quer esconder)

eis as causas do meu desassossego

"Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto. Faço férias das sensações. Compreendo bem as bordadoras por mágoa e as que fazem meia porque há vida. Minha tia velha fazia paciências durante o infinito do serão. Estas confissões de sentir são paciências minhas. Não as interpreto, como quem usasse cartas para saber o destino. Não as ausculto, porque nas paciências as cartas não têm propriamente valia. Desenrolo-me como uma meada multicolor, ou faço comigo figuras de cordel, como as que se tecem nas mãos espetadas e se passam de umas crianças para as outras. Cuido só de que o polegar não falhe o laço que lhe compete. Depois viro a mão e a imagem fica diferente. E recomeço." Livro do Desassossego (Fernando Pessoa)

2 comentários:

disse...

é uma delícia ler seus escritos
:)

thata felix disse...

brigadinha, moni! tb me delicio com seus escritos!
muáááá!