16 de fev. de 2009

caminhar sob a garoa fina

caminhar sob a garoa fina
adoro a garoa fina que escorre como uma pequena lâmina sob meu corpo atormentado
na sexta, andamos na garoa
no sábado, andamos na garoa
ontem, andamos na garoa
andamos sob a garoa na madrugada de ontem
com o coração aos pulos, com uma tensão no ar, entre sorrisos, beijos, abraços e comentários de que o mau caminho é sempre o melhor caminho
ainda sinto o gosto, ainda sinto o cheiro e apesar da segunda-feira densa e cinzenta, as sensações do fim de semana não querem passar
andar sob a garoa fina, ouvindo amy winehouse
as lágrimas escorrendo com a chuva
a atmosfera densa enchendo o coração
mas não é angustia, não é tristeza
não é fossa, não é tensão
eu nem quero saber se continuo sendo amada no outro dia de manhã
tenho desperdiçado tantas lágrimas que chorar lágrimas de alegria é o menor dos desperdícios
andando na garoa, eu ainda sorrio, entre chuva e lágrimas, o risinho da noite anterior
da madrugada, do fim de semana todo
andando pela garoa, vou levando as marcas do fim de semana
o dedo cortado, a mão queimada, o coração poluído, o corpo dolorido, a garrafa de gatorade pra curar a ressaca
andando na garoa, sei que prefiro sentir frio
o frio é plenamente controlável
o calor é invasivo
não há o que se fazer contra ele
e eu odeio perder o controle
se o frio incomoda, é só colocar uma blusa, procurar proteção
o calor invade e permeia todas as coisas
derrete o gelo, esquenta a água
odeio ser invadida
eu gosto da neblina e do frio e da chuva leve q não molha
mas gosto ainda mais de dias extremamente ensolarados
sem nuvens
e gelados, mto gelados
com aquele vento q corta o rosto sem proteção
me dá vontade de andar na rua, sem direção
e me procurar, até me encontrar...
caminhando na garoa, pensando sobre o clima, sobre o sol e o cinza, sobre pessoas e sensações, percebo o quanto seres especiais são capazes de transformar sentimentos
andando pela garoa fina, às nove da manhã de uma segunda-feira cinza da capital paulista, percebo que o sorriso entre lágrimas de hoje só é possível porque, de atalho em atalho, a morte sempre abre mais uma cerveja e acende mais um marlboro

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