17 de jun. de 2009

às vezes me sinto um monstro

nada do que eu faça ou venha a fazer me tira as marcas do tempo que passei dentro do poço de caos, lama e sujeira em que me enfiei um dia
ainda que eu tenha saído dele, saí transtornada e suja
marcada para sempre
jamais voltarei a ser aquela que entrou, por livre e espontânea vontade, no pior dos mundos que alguém pode freqüentar
o mundo do prazer, da futilidade, da imbecilidade, da frieza, da maldade, da falsidade
dos falsos amigos, dos falsos prazeres, das falsas alegrias
o mundo das ilusões
um mundo tão atraente quanto doloroso
decide aventurar-me por estas terras para tentar encontrar quem eu era de verdade
caminhei por cada caminho sombrio
encontrei criaturas tenebrosas
passeei entre sombras e luzes de globos espelhados
em cubículos, banheiros, quartos sujos e desconhecidos
conheci sensações e desesperos
risos artificiais e dores eternas
ilusões de virtude e certezas de desespero
jamais me encontrei
e me perdi ainda mais
sai por escolha própria
uma mão me puxou para fora
uma mão, um par de olhos, uma cabeça e um abraço
em cima do poço, eu coloquei uma pedra
tampei e deixei lá dentro tudo o que um dia me fez rir falsamente e chorar desesperadamente
achei que a vida continuava do lado de fora
e que seguir errando era o melhor dos caminhos
o que eu jamais poderia imaginar é que, a cada passo, encontro uma pedra
e a cada pedra que chuto, o poço se abre novamente e traz de volta tudo o que eu queria esquecer
as marcas que um dia pensei ter deixado enterradas insistem em reaparecer em forma de feridas
feridas dolorosas que me fazem chorar, como se estivessem sendo abertas naquele instante
como se toda a dor que um dia eu senti retornasse e eu fosse obrigada a sentir novamente
não importa o que eu diga, não importa o que eu faça
as marcas de um passado que insiste em sempre cruzar o meu caminho jamais me deixaram esquecer o monstro que um dia eu fui

3 comentários:

Unknown disse...

Não sei se é o caso de esquecer o monstro que fomos. Eu prefiro não esquecer o meu (mais uma da série "questão de gosto").

Roberta Schmidt disse...

Posso falar? Queria ter escrito isso...já to repetitiva, mas me vi de corpo e alma no seu texto.
Vc é foda!

Unknown disse...

Paulada na cabeça... li praticamente sonbe mim !!

Insano