29 de set. de 2008

i love 90's

chego em casa às 6
isso nunca acontece
hj teve ultrassom da tireóide
tô em casa cedo
ligo a tv, novela
guia: vh1
adoro a vh1
sempre tem clipes legais
tá passando i love
adoro o i love
pq sempre amo o q tá passando
é o i love 90's
são 6 e 20 e tá rolando chico science & nação zumbi
me chacoalho até a cozinha ao som de manguetown
as luzes, as cores, os óculos
o xixi, é ao som de bermudas, camisas xadrezes e cabelos sujos e desgrenhados
even flow
o eddie veder dando mosh de cima da coluna
minha adolescência regada a grunge e o pearl jam ecoando de trilha sonora
sento no sofá de novo, é a vez do offspring
come out and play!
impossível não cantar junto "keep'm separated!"
há!
impossível!
caralho! sonic youth!
já falei q amo sugar cane?
i love u sugar cane!
e, num passe de mágica, um hino
um hino à minha adolescência problemática e doentia:
o loser do beck!
i'm a loser, baby
so why don't you kill me?
o q eu podia querer mais?
uma pausa para o banho
é a vez da sheril crow
enquanto a água escorre, mais um hino
não a mim, não à minha adolescência
mas um hino aos anos 90
as luzes, as roupas, os cabelos
counting crows - mr jones
quem não dançou isso, uma vez q seja?

ok, prefiro os clipes do white stripes
mas as luzes, as cores, os efeitos
o beck e o caixão em stop motion
a distorção do sonic
o barulho do offspring
a sujeira do pearl jam
é tudo tããããão 90's
i love 90's
foi neles q eu cresci, foi neles q aprendi a ler, escrever e ouvir música

a música já tinha morrido nos 90's
mas, pra mim, foi nos 90's q ela nasceu

Um comentário:

eustáquio disse...

Vou adicionar esse seu blog aos favoritos, mais pelo título, pela persona, o avatar, que pelo que é escrito.

Ou não, vou lendo esses posts, ainda sem saber se porque é bom ou se porque não quero estudar grego. Mas eu adoro grego, apesar de não gostar de estudar; bom de verdade seria só aprender.

E vc já tá quase uma coroa e vai fazendo merdas que fiz só entre os 14 e 17, fora recaídas, nunca tão poderosas quanto o ímpeto original; e vai achando que amadurece porque descobre que gosta de madonna, quando deveria descobrir que nem sempre é possível gostar de Bach, e que há uma lacuna que com madonnas e quejandas pode ser preenchida; uma lacuna, que muda e passa.

Nem lembro a última vez que tive uma ressaca, e há tanto tempo não vou lá comprar a pílula pra alguém ou fazer teste de sangue. Duas da manhã já é insônia. Ir ao cinema é farra. Duas cervejas são soporífero poderoso; maconha dá enjôo e é uma droga pesada; cocaína é longínqua lembrança de uma semana frenética e entediante do ano passado; catolicismo e budismo não resistiram à irreverência; Homero não resistiu, Cícero não resistiu, tampouco Verlaine e Baudelaire e Kavafys e Michelangelo e Foucault e por fim Jacques Lacan. Tudo humor nonsense, as jóias da cultura. Tudo é motivo de sátira. A casa distante com a família dentro não é fonte de saudade, não, poucas vezes se aventura no interurbano. E o trabalho, enfim, até que se torna divertido.

Milhõezinhos de idéias megalomaníacas resplendem e logo, com um sinal vermelho, uma aula, um cigarro, somem no nada... Somem como essa fumaça que permanece no hábito, ou vício, na estratégia.

Fruta é coisa pra viveiro de aves (a esta altura já se tentou ser saudável preventivamente e já se desistiu, agora só quando for tarde demais e diante da necessidade.) Amizades, velhas e novas, só pra não virar de uma vez por todas bicho; e se algo além disso acontecer, se há de ser cínico e dar o número de telefone errado. Ah mais um: você é interessante...

Pois chega o momento em que só a devoção, e nada menos, é o bastante. E em que se olha aquela luz brandamente amarga da tarde que vai morrendo e se lembra que já são... 8 anos que se vem contemplando essa mesma luz e a súbita chegada da noite, sem que se possa fazer nada.

E é quando todo projeto, se é que havia um, ao menos toda aspiração vaga e poderosa de vida é descartada, em nome de posturas, ou imposturas, mais adequadas ou menos doloridas, que se vão adotando; e, como se acumulem camadas de tempo sobre isso e se automatizem os hábitos, uma bela manhã de olhos inchados lhe mostra a sua face retorcida no espelho, e mostra o quanto você já não é nem será você mesmo, o quanto você era impossível.

No entanto fica ainda algo no fundo da caixa de pandora, algo que não se sabe, pois sistematicamente o que vem à luz é logo destruído. As ilusões, as poucas sobreviventes, antes esbanjadas, passam a ser guardadas com esmero, e tornam-se o bem mais precioso. Você de fato fica mais fútil e idiota, e no fundo se dá conta disso.

Fala-se em amor com uma certa vergonha, de maneira desajeitada; é preciso preservar essa palavrinha lá no seu recanto de impossível. Fingir ignorar sua onipresença, fingir ignorar que se segue a ela caninamente, religiosamente. Porém no último momento rebelar-se, negar, apostatar, descrer, fugir. Está lá, de portas abertas, mas já não é o que se procurava, não pode ser, não assim, não agora, não com você nem comigo. Se acontecer é porque já está errado, é porque é menos, é imperfeito, é falso.

Mas o que não é? Rude macaco ou macaquinha crendo que no instante solitário há uma espécie de inteireza, plenitude, perfeição. E a cabeça já começa a doer de tanto se pensar assim, pelo que se impõe e é dominada a sutil arte de esquecer, de não perceber. Não perceber que é outubro, não perceber que esta situação, e o desenlace deste quadro, são voluntários, mas que também a sua vontade é fatal. Nenhuma razão para supor que de outubro em outubro algo será diferente. Você nota que passou um ano porque, após 10 000 km rodados, de novo tem que trocar o óleo lubrificante do motor do carro.

Por fim, a palavra, a palavra, que seria um modo de constituir de transmudar a realidade, ou mesmo simplesmente de se refugiar dela; a palavra é incorporada ao extenso catálogo de hábitos, ou vícios, a palavra é aquele trejeito involuntário, e é o modo como você arranja os cabelos, pela manhã, antes de sair: recorrência, e não revelação. Com isso, a palavra se irmana ao silêncio, é a última vitória do silêncio, é o dar-se conta de que só houve, e haverá, ruídos mais ou menos articulados, que nunca fora tocado de leve o sentido, que só um vento, misteriosos e furtivo, assanhando de leve os cabelos, causando um arrepio nas bochechas, havia displicentemente passado por você.

Era só isso, esse vento, essa brisazinha breve, invisível, tênue, furiosa e dolorida.