26 de fev. de 2008

beletrista

Descer do carro. Mas antes, respirar fundo. O ponto de ônibus à direita e a lembrança das noites frias de agosto esperando o horto chegar. O farol de pedestre quebrado. Será que alguma outra vez ele esteve quebrado antes? Não lembro. A escadaria... a longa escadaria... a primeira vez que vi, estava com meu pai e era de dia. Eu tinha subido aquela escada com o coração nos pés. Cada batida, um passo. Dessa vez, era noite. Incontáveis vezes subi e desci ali sem que meu coração batesse. Dessa vez, ele estava batendo de novo. Ritmado pela ansiedade. A lama... ah! A lama! Um dia achei bonito ser hippie, fumar maconha e viver em contato com o natureza... hoje, ela estava ali grudada no meu sapato de cetim. Não vou sentir falta disso. O prédio, a pichação, a xerox. O que são aqueles computadores ali? Além de papel higiênico no banheiro, agora temos computadores ali também? A cópia... as pastas... o Sinomar e seu centro-avante que nunca vem pro jogo. Mais escadas... tantas pessoas, tantas! Posso sentir a ansiedade em seus olhos... tanto quanto eu, a vida delas muda hoje. Mas elas não sabem de nada ainda... é tudo lindo, é tudo perfeito. Elas tem orgulho de estar ali. E eu também. A fila... lembro da primeira fila. O papel estranho, a cópia da cópia da cópia da cópia. As pessoas. Começo a reparar nas pessoas. Nossa! Aquela menina... odiava ela... será que ela imagina o que eu vim fazer aqui? Tomara que ela esteja feliz. Eu estou. Aquele cara... como ele chamava mesmo? Meu deus! Fazia uns 2 anos que eu não via aquela senhora... e essa garota? A da franja, lembra? Gente! É impressionante... parece que hoje, justamente hoje, todos resolveram sair do bueiro, visitar meus olhos e excitar a minha gaveta das lembranças. Quarenta minutos de espera. É... é sempre assim... sempre foi... porque hoje ia ser diferente? É a minha vez. Hahaha! Minha vez chegou! Não é impressionante? Sem gaguejar. A folha de papel nas mãos. Preencher. Solicitar. Aguardar. Ler. Assinar. Pronto. Está feito. Mas, de repente, as luzes apagam. Holofote em mim e nele. “Você achou que ia ser fácil assim?” com uma risada maligna, ele apaga, dado por dado. “Você vai ter que fazer tudo de novo”. As luzes reacendem. As pessoas voltam a conversar. Não. Não tenho que refazer. Acabou mesmo. É o fim. Lembro de quando eu terminei o colégio. Dava uma angústia todas as manhãs. Sonhava, como sonho até hoje, que estava na escola. Mas que eu era mais velha e mais estranha. Ouço a música do White Stripes: “Well we're back in school again and I don't really know anyone. And I don't want to break the rules cause I've broken them all before”. Será que vou sentir saudades? Acordo da alucinação. É o fim. É o fim. E a única vontade que eu tenho é de sair gritando para todos que é o fim. Cambalhota no campo. Acabou! Acabou! Como o Galvão Bueno na final de 94. Não é o tetra. Não se passaram 24 anos. Mas, pra mim é como se fosse. É a graduação. É o fim. É um sonho. É uma desilusão. Há cinco anos atrás eu era uma garotinha deslumbrada por ter passado no vestibular. Hoje, eu sou uma garotinha assustada com o fim da graduação. Se aprendi alguma coisa na faculdade? Aprendi que tudo o que está escrito aqui recebe o nome de lugar-comum.

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