bruscamente, tomou-o entre as mãos. uma invasão, quase um estupro. sentiu isso assim que a sensação do toque atingiu seu sistema nervoso central e se espalhou por seu córtex anterior. sentiu-se mal, assim, como se se arrependesse. mas passou logo, como toda a intensidade do mundo. nunca se arrependia de nada e aquela não seria a primeira vez. já que havia feito, o melhor era aproveitar cada instante de deleite. o toque macio encheu seus dedos. cada um deles, do menor ao polegar, se deliciava de prazer. sentia o sangue pulsando em suas veias, a cada instante com mais intensidade, em cada um dos vãos regados de suas mãos. aos poucos, a sensação diminuiu e, sentindo a necessidade de mais, esqueceu qualquer pensamento externo e centrou todas as suas vontades para aquele ato, para aquele momento de loucura e excitação.
num gesto de fria paixão, apertou-o e soltou-o, retomando por alguns instantes a consciência perdida. tremia. resolveu que, para alcançar o que tanto desejava, precisava ir mais longe. aquele prazer não era o suficiente. queria mais e seguiu seus instintos até onde eles a levaram. etapa por etapa, camada por camada, invadiu-o brutalmente. o prazer extasiava seus dedos que moviam-se loucamente e inundavam seus sentidos todos. ouvia luzes, via sons, tateava cores. mais uma vez, havia perdido a consciência. não sentia nenhuma intensidade, não sentia nenhum suspiro. vazio total. mas arfava. arfava, com toda a profundidade e sincronia, arfava. o toque em seus dedos era maior que o mundo. arfava e esquecia e enlouquecia ainda mais.
num súbito, tomada por toda a fúria que a sensação é capaz de proporcionar, descontrolou-se. rasgou-o, rasgou-o, rasgou-o. em muitos pedaços. tantos pedaços. e suspirou profundamente com um aperto que acelerou seu coração, até ele quase parar. enfim, sua alma se reecontrava com seu corpo.
recobrada de sua consciência, juntou os pedaços (tantos pedaços!) do recém-esquartejado lenço de papel multifolhado, que antes do ataque de fúria e prazer, enfeitava sua mesa entre tantos outros iguais. sempre iguais. enquanto recolhia os pedaços e os depositava calmamente na lixeira, lembrou-se do namorado também recém-esquartejado, congelando lentamente no freezer de sua casa... tantos pedaços... sorriu com o canto dos lábios e se dirigiu para a mesa do café.
era hora de tomar mais uma xícara para enfrentar o resto do dia monótono no trabalho
renaissance são paulo hotel
02/12/2006